-Juliô!
Meio dia e quinze! Ê, dorminhoco!
Foi da porta da rua à do quarto de Julinho, deixando sapatos e bolsa pelo caminho. Com a idade dele, ela já ajudava a mãe no caixa da loja. Julinho não; todo dia a mesmíssima coisa... Gritar, derrubar a porta, qualquer tentativa seria em vão. “Julio nunca levanta antes da uma”. Bateu levemente na porta desceu a escada afrouxando o sutiã e soltando o cabelo. Só um bom banho no horário de almoço salva dias corridos e abafados.
-Acorda Julio, meio dia e meia!
Ao chacoalhar o garoto, este, que dormia com a barriga para cima e a boca aberta, engasgou com a saliva e tossiu. Lia sentiu respingar em seu braço. Enxugou-o no avental e suspirou. Julio gemeu baixinho e segurou-se aos lençóis com força.“É a idade”, Lia sorriu quase nada. O rosto do garoto ruborizou e contorceu num esgar sonâmbulo. Lia desviou o olhar: as sombras dos móveis balançavam um pouco, vozes cochichavam em baixo da cama, atrás do armário, atrás da cortina. Fechou os olhos. Sentiu então pontadas nas têmporas e os cochichos viraram gritinhos agudos, como os de grandes móveis metálicos quando arrastados. O chão tremeu. Lia tremeu. O estojo do baixo elétrico de Julio caiu em um barulho grave e seco.
Mão na testa, suor. Alucinação. “Já passou”.
-Filho, acorda!
-Uhn uhn uhn... Ahhhhhh! – Espreguiçou de olhos abertos e aconchegou-se à mãe na posição fetal.
Lia ajeitou o cabelo do filho e saiu. Julio dormia como um anjo.
“Varrer, limpar”.
Lia cantarolava; sorria nervosa. A sala estava suja: dois pratos com resto de pizza, copos sujos e a coca fora da geladeira. Enquanto derramava a coca na pia, Lia pensava em quanto Reginaldo fazia falta. Não que fosse muita, menos ainda que guardasse qualquer amor pelo vagabundo; Qualquer homem ou mulher serviria, contanto que pudesse dividir as responsabilidades com alguém confiável.
- Ai, ai Deus meu! – suspirou; não voltaria ao quarto, Julio que acordasse sozinho - Moleque! Ah se estiver matando aula...Deixa estar! Espera até a próxima reunião de pais...
Às 13:00, a terra tremeu de novo. A dor de cabeça só fazia piorar. Manchas amareladas piscavam nas paredes brancas, nos móveis brancos, no branco dos olhos no espelho do banheiro. O mundo acabava. Vomitou, deu a descarga, bochechou a água gelada da pia, molhou a nuca, os punhos, o rosto. Recompôs-se.
- Chega, Julio. Vai, acorda, eu já estou atrasada... Anda, de pé!
- Ow, mãe, que saco... Me deixa em paz...
- Vai almoçar enquanto está quente!
- Ow, chega. Cuida da sua vida.
Resmungando a caminho da porta, vestiu os jeans, enfiou o boné na cabeça e apanhou a mochila. Sacou um pedaço de pizza da geladeira
- Escuta aqui, mocinho... Não lavas nem a própria louça, acordas depois do meio dia... Desse jeito não dá!
Engoliu a pizza e, à porta, calçou o tênis sem desamarrar
- Julio, espera!
Ao abrir a porta, Julio foi engolido por um verme gigante.
Meio dia e quinze! Ê, dorminhoco!
Foi da porta da rua à do quarto de Julinho, deixando sapatos e bolsa pelo caminho. Com a idade dele, ela já ajudava a mãe no caixa da loja. Julinho não; todo dia a mesmíssima coisa... Gritar, derrubar a porta, qualquer tentativa seria em vão. “Julio nunca levanta antes da uma”. Bateu levemente na porta desceu a escada afrouxando o sutiã e soltando o cabelo. Só um bom banho no horário de almoço salva dias corridos e abafados.
-Acorda Julio, meio dia e meia!
Ao chacoalhar o garoto, este, que dormia com a barriga para cima e a boca aberta, engasgou com a saliva e tossiu. Lia sentiu respingar em seu braço. Enxugou-o no avental e suspirou. Julio gemeu baixinho e segurou-se aos lençóis com força.“É a idade”, Lia sorriu quase nada. O rosto do garoto ruborizou e contorceu num esgar sonâmbulo. Lia desviou o olhar: as sombras dos móveis balançavam um pouco, vozes cochichavam em baixo da cama, atrás do armário, atrás da cortina. Fechou os olhos. Sentiu então pontadas nas têmporas e os cochichos viraram gritinhos agudos, como os de grandes móveis metálicos quando arrastados. O chão tremeu. Lia tremeu. O estojo do baixo elétrico de Julio caiu em um barulho grave e seco.
Mão na testa, suor. Alucinação. “Já passou”.
-Filho, acorda!
-Uhn uhn uhn... Ahhhhhh! – Espreguiçou de olhos abertos e aconchegou-se à mãe na posição fetal.
Lia ajeitou o cabelo do filho e saiu. Julio dormia como um anjo.
“Varrer, limpar”.
Lia cantarolava; sorria nervosa. A sala estava suja: dois pratos com resto de pizza, copos sujos e a coca fora da geladeira. Enquanto derramava a coca na pia, Lia pensava em quanto Reginaldo fazia falta. Não que fosse muita, menos ainda que guardasse qualquer amor pelo vagabundo; Qualquer homem ou mulher serviria, contanto que pudesse dividir as responsabilidades com alguém confiável.
- Ai, ai Deus meu! – suspirou; não voltaria ao quarto, Julio que acordasse sozinho - Moleque! Ah se estiver matando aula...Deixa estar! Espera até a próxima reunião de pais...
Às 13:00, a terra tremeu de novo. A dor de cabeça só fazia piorar. Manchas amareladas piscavam nas paredes brancas, nos móveis brancos, no branco dos olhos no espelho do banheiro. O mundo acabava. Vomitou, deu a descarga, bochechou a água gelada da pia, molhou a nuca, os punhos, o rosto. Recompôs-se.
- Chega, Julio. Vai, acorda, eu já estou atrasada... Anda, de pé!
- Ow, mãe, que saco... Me deixa em paz...
- Vai almoçar enquanto está quente!
- Ow, chega. Cuida da sua vida.
Resmungando a caminho da porta, vestiu os jeans, enfiou o boné na cabeça e apanhou a mochila. Sacou um pedaço de pizza da geladeira
- Escuta aqui, mocinho... Não lavas nem a própria louça, acordas depois do meio dia... Desse jeito não dá!
Engoliu a pizza e, à porta, calçou o tênis sem desamarrar
- Julio, espera!
Ao abrir a porta, Julio foi engolido por um verme gigante.
Pedro
6 comentários:
Eu ri no final, ri mesmo. Me manipulou, seu malandrinho.
É isso, não consigo criticar, acho que tu tá mandando bem.
Que péssimo Pedro!
Tomara que tenha um verme enorme a sua espreita também!!
Ótimo texto, mas o final... lamentável.
Interessante. Talvez esse final "surpresa" precisa ser trabalhado melhor no texto; seja a tremedera da casa, seja esse ócio do garoto, seja sei lá o que. Mas gostei de qualquer forma.
vou vir mais vezes ler o texto de vocês. =)
eu não sei, acho que gosto do final desse jeito. Gosto de como se relaciona ao título.
gosto também pedro
cabe no blog
uhuhuhu
bom te ler
nayla
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