“Claro que lembro: Você descia de moto a escadaria do metrô
na Sé e eu ia na garupa. Como se fosse em uma versão baixo orçamento de Fuga de
Los Angeles, você dizia. As pessoas desviavam quando passávamos. Saltávamos a
catraca e descíamos as escadas e aos trilhos, bem na hora em que chegava um
trem. As luzes dentro do metrô eram como num túnel na Ayrton Senna, só que não
havia trânsito.”
“Ta, mas deixa eu te contar o final: Lembra pra onde a gente
ia? Ana Rosa. Quando a gente chega no Paraíso, tem um trem parado. Consigo ver
a cara do motorista do trajeto contrário antes de acordar com meu próprio
grito, solitário na madrugada da Aclimação.
Minha terapeuta dizia que tudo estava relacionado à minha
homossexualidade reprimida, que o que eu queria era que você, por trás de mim,
tivesse um pau. Os dois sabemos as conseqüências de minha saída do armário
imaginário. É estranho, desculpa falar isso agora, mas ainda sinto sua falta...
Engraçado, eu queria ser Kurt Russell e você me largou por causa de um desses
carinhas que fazem stand up comedy. Um babaca.”
“Nossa, como você viaja. Foi você quem pediu pra ficar um
tempo sozinho, Felipe”.
“Tá. Mas agora está tudo claro. Volta?”
“Não mesmo. Vamos embora.”
“Pode deixar. Essa é minha.”
“Não, mesmo.”