segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Noturnas

Ela bebia um campari. Pra mim, campari nunca fez sentido sem cigarro. Ela aceitou, mas não acendeu. Manteve-o apontado para o chão entre o indicador e o médio.
Os olhos verdes roíam os botões da minha camisa, provavelmente imaginando músculos demais e muito menos barriga do que a roupa escondia.
- Eu sei bem o que você quer... Saber...
“Risadinha safada”, pensei. Ela sacou um lenço; da bolsa, que fique claro, pois naqueles jeans não cabia nada além dos 60 quilos de seu corpo bem feito. Umedeceu o lenço no campari, desinfetou meu indicador direito e colocou-o em sua boca. Estremeci ao sentir os caninos da vampira.
Ela sorriu. Retirou meu dedo da boca e largou a mão. Esta de imediato caiu, como se não estivesse grudada no corpo; fez então um curto movimento de pêndulo e já se escondia no bolso da calça.
- Vem cá, ela chamou com o indicador.
“Só venha se tiver pegada”, desafiou com os olhos.
"Ah, se tenho senhorita".
- Lá fora, sussurrou.
Ela me levou para fora, pro escuro, prum beco. Beijou-me com força, lambeu meu pescoço, mordeu. Levantou minha camisa aos poucos, se aproveitando de cada um de meus excessos de carne, lambeu o suor de meu peito e desceu ao umbigo. Curvei-me para alcançar suas coxas, mas não conclui o movimento; Ela acertou meu queixo com a nuca. Fui ao chão.
“Trouxa”, pensamos os dois; eu, no chão, sangrando; ela, iluminada pela luz do poste, já na esquina, levando meu sangue e minha carteira.

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