segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Noturnas

Ela bebia um campari. Pra mim, campari nunca fez sentido sem cigarro. Ela aceitou, mas não acendeu. Manteve-o apontado para o chão entre o indicador e o médio.
Os olhos verdes roíam os botões da minha camisa, provavelmente imaginando músculos demais e muito menos barriga do que a roupa escondia.
- Eu sei bem o que você quer... Saber...
“Risadinha safada”, pensei. Ela sacou um lenço; da bolsa, que fique claro, pois naqueles jeans não cabia nada além dos 60 quilos de seu corpo bem feito. Umedeceu o lenço no campari, desinfetou meu indicador direito e colocou-o em sua boca. Estremeci ao sentir os caninos da vampira.
Ela sorriu. Retirou meu dedo da boca e largou a mão. Esta de imediato caiu, como se não estivesse grudada no corpo; fez então um curto movimento de pêndulo e já se escondia no bolso da calça.
- Vem cá, ela chamou com o indicador.
“Só venha se tiver pegada”, desafiou com os olhos.
"Ah, se tenho senhorita".
- Lá fora, sussurrou.
Ela me levou para fora, pro escuro, prum beco. Beijou-me com força, lambeu meu pescoço, mordeu. Levantou minha camisa aos poucos, se aproveitando de cada um de meus excessos de carne, lambeu o suor de meu peito e desceu ao umbigo. Curvei-me para alcançar suas coxas, mas não conclui o movimento; Ela acertou meu queixo com a nuca. Fui ao chão.
“Trouxa”, pensamos os dois; eu, no chão, sangrando; ela, iluminada pela luz do poste, já na esquina, levando meu sangue e minha carteira.

sábado, 30 de agosto de 2008

Protético

O galo do pet shop cacareja quando acendem a luz.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

domingo, 13 de julho de 2008

Picadeiro.

O espetáculo daquela noite não terminou. O dono do circo afrouxou a gravata e limpou a garganta. Não havia nada a fazer senão esperar que a platéia se desfizesse sozinha. O palhaço morreu. Festim errou a cambalhota e quebrou o pescoço. Morreu.

Riam, senhoras e senhores! Se pudesse falar agora... Aliás, se o pobre palhaço mudo pudesse em qualquer momento falar, ele pediria risadas! Como o desejaria Festim, abstenho-me de qualquer discurso enfadonho nesta data funesta. Senhores, peço-lhes apenas que riam. Quis o destino subtrair ao mundo alguém que vivia para alegrar. Não nos resignemos, contudo: gargalhemos em sua homenagem! Riam! Isso, riam!... Senhoras: Senhores: Muito obrigado!

Não riam, pensava o palhaço, vocês não sabem de que estão rindo. Vocês não sabem de nada! Quem quer goiabada? Rá. Queria que se afogassem na goiabada, morressem engasgados com a pipoca. Imbecis.

O público gargalhava com a gagueira dos gestos do palhaço silencioso. Festim implorava às estrelas pintadas no céu de plástico do circo, socava o chão, chutava o ar; Rodopiava e ia ao chão.
O mundo seria melhor uninverso, rá... É isso? Só isso? Porcos, rá! Supondo que eu morra... As circunstâncias, todavia... Supondo que o circo acabe... Não. Rá. Hum, se o circo acabar vai sobrar ainda, muito. Hum, não existem circunstâncias. Não, tudo é, o tempo todo, sempre, rá!... Muito, sobra muito. Se eu acabar, hum; que sobra? Tacatatrum! Taram!! O contrário! Rá. Pra onde eles vão depois? Festim não dormia. Nunca.

Na noite do domingo em que morreu o palhaço, choveu vinho.

Segunda-feira o sol nasceu como esperavam David e Juliana.

Lucio caçou o ônibus às seis. Sorria.
Pedro

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Amar

Às vezes, de tanto, tenho vontades de te rasgar.


Mari

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008


Hoje eu tomei um suco de laranja, manga e uva. Tava gostoso no começo, diferente... Aí eu tentei sentir o gosto de cada fruta separado. Ficou ruim! Eram três frutas que eu gosto só que os sabores começaram a revezar em duplas para impedir que o outro se destacasse. Devia ter pedido amora.

Mari

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Retalhos magnéticos da vida

Começa assim: quando então cheguei ao cerne do consenso de que tudo não seria da maneira de antes, tive que aproveitar para dois tipos de uso daquela fita magnética que me ligava ao fluxo de ontem e hoje. Mas foi uma antemão de manchas de pele fodida. Som com cachos de arroz forjados por uma artesã minimalista. Assim como tinha construído e suscitado lembranças, a visão de tudo era. Mas nada de nada de nada. Tipificação de trechos magnéticos. Som em santuário plano contigo sufoco. Tentar som. Tentar embora tentar. Antes e antes de sufocando cortando treinando banindo tipificando materializando uniformizando comendo banhando corporificando sentindo morrendo sondando carnalizando enfiando cerrando emporcalhando.
Sabe, José. Tudo funciona a mil e tu e eu não somos nada mais que feitos do banho de coisas em coisas de prata. José é nome de aquele que não sabe quão nobre, quão sujo, quão criminoso é seu tipo e meu suor na máquina, aquela que lava-te a roupa. Acorda e samba pelado.