domingo, 13 de julho de 2008

Picadeiro.

O espetáculo daquela noite não terminou. O dono do circo afrouxou a gravata e limpou a garganta. Não havia nada a fazer senão esperar que a platéia se desfizesse sozinha. O palhaço morreu. Festim errou a cambalhota e quebrou o pescoço. Morreu.

Riam, senhoras e senhores! Se pudesse falar agora... Aliás, se o pobre palhaço mudo pudesse em qualquer momento falar, ele pediria risadas! Como o desejaria Festim, abstenho-me de qualquer discurso enfadonho nesta data funesta. Senhores, peço-lhes apenas que riam. Quis o destino subtrair ao mundo alguém que vivia para alegrar. Não nos resignemos, contudo: gargalhemos em sua homenagem! Riam! Isso, riam!... Senhoras: Senhores: Muito obrigado!

Não riam, pensava o palhaço, vocês não sabem de que estão rindo. Vocês não sabem de nada! Quem quer goiabada? Rá. Queria que se afogassem na goiabada, morressem engasgados com a pipoca. Imbecis.

O público gargalhava com a gagueira dos gestos do palhaço silencioso. Festim implorava às estrelas pintadas no céu de plástico do circo, socava o chão, chutava o ar; Rodopiava e ia ao chão.
O mundo seria melhor uninverso, rá... É isso? Só isso? Porcos, rá! Supondo que eu morra... As circunstâncias, todavia... Supondo que o circo acabe... Não. Rá. Hum, se o circo acabar vai sobrar ainda, muito. Hum, não existem circunstâncias. Não, tudo é, o tempo todo, sempre, rá!... Muito, sobra muito. Se eu acabar, hum; que sobra? Tacatatrum! Taram!! O contrário! Rá. Pra onde eles vão depois? Festim não dormia. Nunca.

Na noite do domingo em que morreu o palhaço, choveu vinho.

Segunda-feira o sol nasceu como esperavam David e Juliana.

Lucio caçou o ônibus às seis. Sorria.
Pedro