Dalton nunca fez nada direito, nem vai fazer. Eu acho que não, sei lá. Ele nunca fez nada grande, eu quero dizer, porque valoriza demais feitos pequenos, fica se prendendo nessas ninharias. Umas coisas que ninguém presta atenção, sabe?, como lembrar de apagar a luz quando todo mundo esqueceu, guardar a louça ou secar os pratos. Umas ambiçõezinhas que giram em torno dessa gentileza abnegada e de um sentido canino de utilidade marginal.
Não vão lembrar do nome dele quando chegar a conta, ou quando encontrarem pratos no armário. Talvez o mencionem em meio a uma conversa ordinária e lá alguém vai dizer: “Gente fina”, assim, nessa entonação meia boca. E daí, se um dia, Deus seja testemunha, um dia a estrela de Dalton brilhar por trinta segundos, quinze, e alguém disser: “Nossa, Dalton, que legal”, o idiota vai regozijar e guardar isso como fruto do reconhecimento de sua abnegação doentia. Deitado só na cama, com a mão sobre o umbigo num gesto patentemente hedonista, vai regurgitar e mastigar cada palavra, enquanto lá fora as pessoas passeiam sobre suas migalhas.
O mais horrível, eu sentencio, é que Dalton nunca vai amar mais do que um amor morno e conivente, não, os heroísmos ultrapassam sua coragem. Sim, ele não faz nada reconhecível por puro pudor, por conta dessa humildade deturpada, hiperbólica, que o leva a imobilidade, a ter culpa a ponto de se vangloriar no escuro. Queria ter o poder de suplicar, de falar pra que se mova, mas mesmo assim minha preocupação só causaria mais celeuma e momentos de prazer solitários.
Um comentário:
Lembrou aquela conversa sobre peso e leveza...
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